Pandemia e tornado não estavam nos planos de Jhonatan Barro quando ele decidiu buscar sua dupla titulação na University of Kentucky, nos Estados Unidos, mas agora fazem parte da história (e que história!) do doutorando. Estudante do Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia desde o mestrado, concluído em julho de 2018, Jhonatan chegou em meados do ano passado ao estado americano de Kentucky, onde está sob orientação do professor Carl Bradley. Junto com o professor Emerson Del Ponte, orientador de Jhonatan no PPG desde o mestrado, eles realizam pesquisas em torno de doenças da soja, especialmente a mancha olho de rã, causada pelo fungo Cercospora sojina. A expectativa do estudante é defender sua tese em dezembro deste ano, tornando-se doutor pela UFV e pela University of Kentucky.
“Fiz essa opção pela dupla titulação pouco depois que entrei no doutorado. Havia essa parceria com a universidade americana, e o Emerson fez o contato com o Carl. Eles amarraram a ideia e ficou combinado que eu viria em abril de 2020″, conta Jhonatan. A pandemia do coronavírus, porém, forçou uma mudança nos planos, e o trabalho do estudante ao lado do professor americano começou ainda no Brasil. “Nosso projeto é basicamente análise de dados. Eles têm um banco de dados muito grande aqui, compreendendo oito estados, e eu tive acesso remoto a esses dados, para já começar a organizar e analisar. Mesmo estando no Brasil, em 2020 participei da minha primeira reunião da APS (American Phytopathological Society).” Foi de Viçosa, também, que ele começou a cursar as disciplinas exigidas pela universidade americana para a dupla titulação.
A ida aos EUA, com bolsa Capes PrInt, aconteceu assim que possível – primeiro para a cidade de Princeton, onde havia uma estação experimental da Universidade e, mais recentemente, para Lexington, ambas no estado de Kentucky. Na primeira etapa, Jhonatan fez seus ensaios de campo e, agora, no campus principal da universidade, ele trabalha principalmente com análise de dados. “Estamos gerando informações muito importantes sobre eficácia de fungicidas, que serão usadas para o manejo desta doença. É uma doença que tem muito problema de resistência à fungicidas, então o manejo precisa ser feito de forma integrada. Há um forte impacto econômico, especialmente nos EUA.” Para os seis meses finais da pesquisa, o estudante terá financiamento da universidade americana.
30 segundos
Pouco antes da mudança para Lexington, porém, Jhonatan passou por uma experiência ímpar: um tornado destruiu completamente a casa onde ele morava – e também a estação experimental da Universidade. “Foi em 10 de dezembro, uma sexta-feira à noite. Eu fui para o porão da casa com minha mochila, computadores, documentos… O corredor do tornado pegou toda a estação experimental, e a casa de dois andares onde eu morava foi destruída, não sobrou nem o porão. O teto do porão foi arrancado, eu fiquei exposto a tudo o que o tornado trouxe, pedra, madeira, tudo…” Ele foi socorrido em seguida por pessoas da comunidade e, dois meses depois, ainda precisou passar por cirurgia para retirada de pedaços de madeira que ficaram alojados em suas costas. “Fiquei por uma semana com uma colega de laboratório no apartamento dela e, depois, mudei para Lexington, como já estava planejado”, conta.
Segundo Jhonatan, em momento algum ele pensou em interromper a pesquisa e voltar para o Brasil. “Eu tinha muita clareza de que queria seguir, e recebi apoio, inclusive financeiro, tanto da UFV quanto da universidade daqui. Todos me ajudaram muito, professores, orientadores, inclusive a comunidade”, ele conta, destacando que a mudança de cidade foi um fator importante neste restabelecimento. “Meu grande medo era sofrer com uma síndrome pós-traumática, mas fui bem assistido aqui e hoje me sinto muito tranquilo com isso. Às vezes é difícil pra mim acreditar que uma coisa dessas aconteceu.”
Mais segurança
Para ele, a experiência internacional acrescenta muito não apenas às suas vivências pessoais, mas também às suas habilidades profissionais. “Se expor a um novo ambiente é sempre importante pro desenvolvimento. Não é minha primeira vez nos EUA – na época do Ciência sem Fronteiras eu estive morando no Kansas por um ano e meio, durante a minha graduação. Agora vim muito mais maduro, e ainda assim aprendo muito, vejo que cresci muito, inclusive com as experiências que não foram boas.”
A oportunidade de vivenciar um ambiente internacional de pesquisa também reforça, segundo Jhonatan, a importância da formação que teve no Brasil. “Sem dúvida, o PPG me preparou muito bem. Desde o mestrado, a bagagem que a gente traz é muito grande. Como estudante, às vezes a gente sente um pouco a cobrança, mas depois, quando temos essas oportunidades, vemos que vale a pena e que faz todo sentido. Temos um background que nos dá condição de chegar em qualquer lugar e realizar um bom trabalho.”