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Hyanameyka é a primeira mulher a assumir o cargo máximo da unidade roraimense

A egressa do Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia Hyanameyka Evangelista de Lima Primo é a nova chefe-geral interina da Embrapa Roraima. Essa é a primeira vez, nos 42 anos de história da unidade, que o cargo é ocupado por uma mulher. Nos últimos quatro anos, a pesquisadora ocupava a chefia-adjunta de Transferência de Tecnologia na mesma unidade. 

“A chefia-geral é algo extremamente desafiador, mas me sinto muito encorajada pela nossa equipe. Tenho visto os frutos do trabalho pesado, tive a oportunidade de desenvolver habilidades diversas e acredito que poderemos construir muita coisa. É isso que me encoraja a seguir”, diz a pesquisadora, nascida e graduada em Roraima. Apesar de ter construído uma carreira de absoluto sucesso em um curto espaço de tempo, Hyanameyka diz que demorou a se imaginar neste lugar em função da falta de representatividade. “Fiz meu estágio de graduação aqui e admirava demais os pesquisadores, que eram todos de fora. Pra mim, naquele momento, não parecia possível que uma cientista mulher, roraimense, fizesse uma carreira como a que estou construindo.” 

Quase duas décadas depois, Hyanameyka tornou-se referência e inspiração para outras mulheres, ao trilhar um caminho de sucessivas conquistas. O ponto crucial, na avaliação dela, foi a dedicação com a qual cursou mestrado e doutorado em Viçosa, sob orientação do professor José Rogério de Oliveira . “Eu passei em três mestrados em fitopatologia, mas escolhi Viçosa porque é referência. E foi muito intenso. Quando eu conheci colegas formados na UFV, vi que eles tinham tido, talvez, cinco disciplinas de graduação focadas na fitopatologia, e eu tinha tido uma só. A minha única opção era estudar muito, e foi o que eu fiz.” 

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Nos anos de mestrado e doutorado em Viçosa, Hyanameyka atuou no Laboratório de Bacteriologia

Dedicação
Hyanameyka conta que, nos primeiros anos, estudava inclusive conteúdos da graduação, e usava sua fluência em inglês para participar ao máximo de grupos de estudo. “Me lembro até hoje quando me contaram que, na reunião de professores, tinham elogiado meu trabalho, conhecendo minha dificuldade, mas também reconhecendo meu esforço e minha dedicação. Ali eu percebi que podia. Trago essa sensação comigo até hoje.”

Além do conhecimento em fitopatologia, outras habilidades construídas ao longo do mestrado e doutorado também acompanham a pesquisadora em suas conquistas. Antes de chegar à Embrapa, ainda finalizando o doutorado, ela passou no concurso para agente de fiscalização da Secretaria de Agricultura de Roraima e também para professora da Universidade Estadual de Roraima (UERR). “Passei com muitas dicas do professor Luiz Antonio Maffia, que ensinava inclusive como passar no concurso. Ele ensinava até o jeito de entrar na sala, de falar, de articular a mão, eu usei tudo o que ele ensinou.” 

Durante algum tempo, Hyanameyka se dedicou aos dois empregos e à tese de doutorado, até que veio o concurso da Embrapa. “Eu fiz esses três concursos, e não estudei especificamente pra isso. Vejo tanta gente estudando e penso como eu consegui. Mas lembro da minha época em Viçosa. Eu enfrentei todos os medos, todas as dificuldades. Eu via muita gente indo pra festa, pra noite, e eu não vivi isso. Senti que a minha base era menor, e então, todo o tempo que eu tinha, eu tentava me dedicar ao estudo. Ou seja, eu não estudei pra concurso, mas passei anos estudando em Viçosa, no mestrado e no doutorado.”

A mesma dedicação a pesquisadora repetiu depois, quando assumiu a vaga na Embrapa, em 2012. “Logo comecei a fazer um trabalho com agricultura familiar. Trabalhei muito com o manejo da vassoura-de-bruxa, em campo. Em dois anos e meio de Embrapa, eu era líder de três projetos, acho que isso fez muita diferença. Um deles eu aprovei com orçamento da Petrobras, e isso me deu uma visibilidade imensa.” Em 2019, ela assumiu o posto de chefe-adjunta de TT e, mais recentemente, havia se tornado também substituta da chefia-geral. “Agora, estar na chefia pela primeira vez, sendo mulher, nortista, roraimense, que estudou a vida toda em escola pública, formada na Universidade Federal de Roraima, com mestrado e doutorado realizado com auxílio de bolsa de estudo, demonstra que estudantes de baixa renda como eu também podem chegar onde quiserem, desde que se esforcem para tal. Não tenho a menor dúvida!”