milho 1

A podridão vermelha da espiga do milho é uma das doenças provocadas pelo fungo (Foto: Gabriel Paiva)

Um projeto de colaboração internacional envolvendo os professores Emerson Del Ponte e Franklin Machado, do Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia, vai trabalhar em busca de novas ferramentas e recursos para monitorar as populações do patógeno Fusarium graminearum, fungo que causa doenças importantes  no milho e no trigo, com destaque para a giberela do trigo e a podridão vermelha da espiga do milho. O grupo reúne pesquisadores da Universidade de Kentucky, da Universidade Estadual do Kansas e da Virginia Tech, além da UFV, e terá seu trabalho financiado ao longo de quatro anos pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-NIFA).  

A pesquisa é mais uma etapa do trabalho que o grupo já vem executando junto, ao longo dos últimos anos, e tem três objetivos principais: o sequenciamento do genoma de isolados de F. graminearum; o estudo da dinâmica populacional do patógeno e do processo de seleção imposto pelos hospedeiros; e o cruzamento controlado entre isolados obtidos de milho e trigo. É principalmente na segunda parte que vai atuar a equipe de Viçosa, identificando as mudanças genéticas e as pressões seletivas exercidas pelos hospedeiros e revelando como a população do patógeno evolui em resposta a práticas agrícolas variadas. 

“Vamos conduzir os experimentos a campo, onde vamos fazer as inoculações e vamos cultivar o trigo e o milho em alternância por duas ou três safras. Vamos intercalando e coletando os isolados fúngicos. A grande pergunta que temos é se as populações vão se adaptar aos hospedeiros, se nas gerações seguintes elas vão se adaptando e tendo um processo de seleção diferencial de acordo com o hospedeiro”, explica Emerson. Neste contexto, as condições climáticas do Brasil têm papel fundamental, uma vez que permitem o cultivo dos grãos ao longo de todo o ano. 

Parte do material colhido em Viçosa será enviado aos EUA, onde será realizada a análise dos dados. “Para essa análise, serão utilizadas técnicas de genômica que não tínhamos utilizado antes. É um avanço bem significativo para nós. Já desenvolvemos alguns trabalhos envolvendo essas técnicas, mas agora vamos a fundo. Vamos trabalhar com processo evolutivo no campo e ver o efeito dessas práticas culturais nas populações utilizando abordagens  de genômica”, diz Emerson. O projeto também vai permitir que os pesquisadores brasileiros invistam em novos equipamentos de laboratório, aumentando seu potencial de pesquisas futuras, além de abrir caminhos para o intercâmbio de estudantes e professores. 

Parceria
A parceria entre os professores Emerson e Franklin com o grupo de pesquisadores americanos vem desde o doutorado de Franklin, finalizado em 2020. Orientado por Emerson, ele obteve dupla diplomação, pela UFV e pela Universidade do Kentucky, trabalhando nos EUA ao lado da professora Lisa Vaillancourt, que coordena o projeto atual. “No período em que eu fiquei lá, desenvolvemos esse trabalho e, depois, quando eu já estava aqui como professor, seguimos atuando juntos. Recentemente, a professora submeteu esse projeto, que é um desdobramento do que fizemos lá, naquela época”, conta Franklin. “Até aqui, a gente tinha muita informação de observação do que acontece no campo. Mas, com esse novo projeto, vamos entender de fato o mecanismo que leva ao que estamos observando no campo. Conseguiremos uma análise muito mais precisa.”

F. graminearum é o fungo responsável pela giberela, doença que provoca a podridão na espiga de milho e no trigo, entre outros grãos. A doença ataca plantações em diferentes partes da América, causando grande prejuízo à agricultura. No Brasil, o efeito é sentido de forma mais direta no Sul do país, mas também há registros no Sudeste. A giberela provoca não apenas graves perdas de rendimento, mas também contamina os grãos com micotoxinas nocivas, que representam riscos significativos para a saúde humana e animal. “Encontrar mecanismos eficientes de controle do fungo é importante, portanto, tanto por razões econômicas como também pelo impacto que ele provoca na qualidade da alimentação e na segurança alimentar da população”, destaca Emerson.