defesa2304Prelecionista: João Paulo Herrera da Silva
Orientador: F. Murilo Zerbini
Data: 23/04/2024, às 16h
Apresentação online, via Google meet: https://meet.google.com/mxu-cphy-rrk

Resumo: Os begomovírus são importantes patógenos de plantas e representam ameaças à produção de alimentos em todo o mundo. Nas últimas décadas, vários begomovírus emergiram em diferentes regiões do mundo causando perdas em diversas culturas. Uma série de fatores ecológicos e evolutivos governam a emergência de novos vírus. Hospedeiros silvestres são fontes de biodiversidade viral e contribuem como fonte de inóculo para plantas de interesse agrícola. Neste trabalho, explorou-se a dinâmica de uma comunidade de begomovírus infectando Sida acuta (Malvaceae) ao longo de 12 anos (2011-2022) em uma área de regeneração de Mata Atlântica de 0,3 ha localizada no município de Viçosa, MG. A comunidade viral é composta por cinco vírus (Oxalis yellow vein virus, OxYVV; Sida yellow leaf curl virus, SiYLCV; Sida micrantha mosaic virus, SimMV; Sida mottle virus, SiMV; e Macroptilium yellow vein virus, MaYVV). Grande parte das análises foram focadas nas espécies mais abundantes, OxYVV, SiYLCV e SimMV. As populações de OxYVV e SiMMV apresentaram composições complexas, subdivididas em estirpes e variantes. A população de OxYVV era subdividida em duas estirpes, S1 e S2. Por sua vez, a estirpe OxYVV-S1 estava subdividida em cinco variantes (S1a-e). Foram observadas mudanças nas proporções de indivíduos de cada espécie/estirpe/variante ao longo do tempo. OxYVV esteve presente em todos os anos de coleta e nos anos iniciais era a espécie predominante na área. Observou-se também diferenças nas proporções das variantes de OxYVV. A variante OxYVV-S1a foi a mais abundante na maior parte do tempo, sugerindo que essa variante teria maior adaptabilidade em comparação às demais. Em 2016 observou-se uma drástica mudança na composição de espécies, com o SiYLCV superando o OxYVV em termos de frequência. Hipotetizou-se que a ocorrência de um evento aleatório poderia ter reduzido o tamanho efetivo da população de OxYVV, permitindo que o SiYLCV se tornasse predominante. A baixa variabilidade da população de SiYLCV e o compartilhamento do mesmo evento de recombinação por todas as sequências sugerem uma origem evolutiva comum para a população. Para testar a hipótese de adaptabilidade diferencial entre as variantes de OxYVV, foram construídos clones infecciosos das três variantes mais abundantes (S1a, b, c). Os ensaios biológicos mostraram diferenças fenotípicas claras entre as variantes S1a e S1b. Infelizmente não foi possível resgatar a infecção com o clone de OxYVV-S1c. Não foram observadas diferenças significativas em relação ao período latente. O fitness replicativo foi avaliado com base na carga viral. OxYVV-S1a apresentou alto acúmulo até 21 dias pós-inoculação (dpi), mas a carga viral reduziu com o tempo. OxYVV-S1a replicou de forma mais eficiente que OxYVV-S1b nos primeiros 21 dias, mas aos 28 dpi as cargas virais destes dois vírus não diferiram estatisticamente. A taxa de transmissão das duas variantes foi avaliada aos 28 dpi e foi semelhante. O acúmulo diferencial da variante OxYVV-S1a nos estágios iniciais da infecção indica uma vantagem adaptativa em relação ao OxYVV-S1b e pode explicar a prevalência desta variante em longo prazo. Os resultados ampliam o conhecimento sobre a dinâmica das comunidades de begomovírus no ambiente natural e abrem novos caminhos para pesquisas futuras. Begomovírus em hospedeiros não-cultivados podem coexistir como populações complexas compostas por diferentes variantes que ocorrem em diferentes proporções, sugerindo diferentes graus de adaptabilidade entre elas.